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Por um melhor ambiente - a Secundária de Sever do Vouga

terça-feira, dezembro 21, 2004

Flora típica de Sever do Vouga - entrevista

Paulo Machado Licenciado em Eng. Florestal Técnico da Secção Florestal Coop. Agrícola de Sanfins Sever do Vouga


A região de Sever do Vouga tem uma significativa mancha florestal. Dessa mancha que percentagem é ocupada por eucaliptos?

Cerca de 35 % da área total do concelho e 48% da área florestal do concelho, com tendência para um grande crescimento destas percentagens.

O que diz a lei sobre esta matéria?

Segundo o DL 175/88 de 17 de Maio, as arborizações e rearborizações com espécies de rápido crescimento (onde se inclui a espécie Eucalyptus) que envolvam áreas superiores a 50 ha estão condicionadas a autorização prévia da Direcção Geral dos Recursos Florestais (DGRF). Sendo que, os povoamentos preexistentes contam para o limite referido de 50 ha e consideram-se contínuos quando distem entre si menos de 500 m. No entanto sempre que na área territorial do município exista uma área de eucalipto superior a 25% do seu território (que é o caso do concelho de Sever do Vouga – Referido na portaria 513/89 de 6 de Julho), deveram todas as acções de arborização e rearborização ser objecto de parecer prévio da DGRF, independentemente da sua dimensão.
No mesmo sentido também a portaria 528/89 de 11 de Julho proíbe a florestação de áreas de Reserva Agrícola Nacional (RAN) (classificadas de capacidade de uso A e B), é condicionada a florestação de áreas percorridas por incêndios, é condicionada a florestação de solos da Reserva Ecológica Nacional (REN), é proibida a plantação ou sementeira destas espécies a menos de 20 m de terrenos cultivados e a menos de 30 m de nascentes, terras de cultura regadio, muros e prédios urbanos, as manchas contínuas de uma só espécie nunca deverão exceder 100 ha, devendo essas manchas ser cantonadas por faixas de folhosas mais resistentes ao fogo.


Quando são excedidos os limites previstos na lei, que tipo de penalizações podem ser aplicadas? São frequentes essas penalizações?

As penalizações podem variar de 250 € a 15 000€, dependendo da infracção ocorrida ou podem ser arrancadas as árvores no caso do incumprimento dos limites de 20 m e 30 m referidos.

Que tipo de benefícios trouxe para esta região a aposta no eucalipto? Podemos dizer que há custos? Quais?


Em primeiro lugar o eucalipto trouxe grandes benefícios económicos, tornando-se um dos maiores recursos naturais da região, ocupando alguns terrenos outrora explorados por actividades agrícolas (agricultura e pastoreio). No entanto, aliciados pelos lucros rápidos desta espécie e induzidos pelo hábito que, como portugueses, temos de copiar os outros sem pensar em alternativas, transformou-se esta região num eucaliptal quase contínuo. Esta exploração de eucalipto em monocultura sem gestão tem-se reflectido em perdas económicas e ecológicas provocadas pelos incêndios florestais, perdas ecológicas provocadas pela falta de biodiversidade e consequente perdas de solo muito graves.
Não queria deixar de dizer que o problema não é só do eucalipto, mas fundamentalmente do Homem que não tem sabido gerir os eucaliptais, plantando-os desenfreadamente sem qualquer tipo de gestão, pois o eucalipto pode e deve ser plantado mas com regra e bem gerido, como qualquer povoamento florestal. Por isso, atrevo-me a dizer que a grande praga pode não ser o eucalipto mas sim o ser humano que quer lucros rápidos sem gerir os seus recursos pensando no futuro.


Uma vez que o eucalipto é uma espécie importada e por isso designada como exótica, que espécies existiam nesta região?

As espécies florestais que existiam nesta região antes do aparecimento do eucalipto, ainda existem, mas em muito menor representação, ocupando pequenos bosquetes de difícil acesso. A título de exemplo, podemos referir o Carvalho alvarinho (Quercus robur), Sobreiro (Quercus suber), Cerejeira brava (Prunus avium), Castanheiro (Castanea sativa), Salgueiro (Salix sp), Freixo (Fraxinus angustifolia), Nogueira (Juglans regia), Pinheiro bravo (Pinus pinaster), etc.


Em que espécies seria aconselhável investir hoje?

As espécies mais indicadas para as próximas arborizações são as folhosas (carvalhos, cerejeiras, freixos, nogueiras, etc.) que vão criar descontinuidades nas áreas de eucalipto, transformando-se em áreas de produção de madeira de qualidade (das quais somos deficitários) e barreiras a progressão dos agentes nocivos à floresta, quer sejam os incêndios florestais ou as pragas e doenças. Com a utilização destas espécies também aumentamos a biodiversidade, abrindo caminho para a exploração de outros recursos da floresta, como a caça, produção de cogumelos, ervas aromáticas, apicultura, turismos, etc.



Como incentivar a população para o cultivo de uma maior diversidade de espécies? Por onde começar?

Em primeiro informando os proprietários que ao plantar folhosas estão a proteger os eucaliptais, pela sua capacidade de criar barreiras aos agentes nocivos da floresta. Em sequência deste efeito evitamos incêndios que são maléficos para a qualidade do ambiente e põem em perigo as habitações e as pessoas. Aumentam a biodiversidade que minimiza os problemas ecológicos provocados pelo eucalipto. E por fim são grandes produtoras de madeiras de elevada qualidade e por conseguinte de elevado preço.

Jovens Repórteres para o Ambiente envolvidos neste trabalho: Ana Filipa Fernandes da Cruz, Bruno Ricardo Coimbra Rodrigues, Íven Emanuel Nunes Mendes, Ricardo André Rodrigues Correia, coordenados pelos professores Licínio Cardoso, Isabel Capela, Ana Carla Dias e Luís Silva.
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