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Por um melhor ambiente - a Secundária de Sever do Vouga

sexta-feira, janeiro 05, 2007


Entrevista
Professor Carlos Borrego, ex-ministro do ambiente, fala sobre os novos desafios ambientais

Jovens Repórteres para o ambiente (JRA): Qual a sua opinião sobre o panorama florestal actual?

Professor Carlos Borrego (CB): A floresta em Portugal tem vindo a sofrer um declínio acentuado, nomeadamente nas regiões onde o abandono dos espaços rurais tomou maior expressão. O abandono de terras no interior Norte e Centro revelou-se um factor fundamental para o declínio das florestas em Portugal. Por outro lado, a introdução de espécies florestais não autóctones nomeadamente, para a produção de pasta de papel, e a aposta na intensificação das florestas de pinho para exploração industrial contribuiu para a aceleração das monoculturas em Portugal. Com o aumento de monoculturas florestais e o crescente abandono de terras o potencial de risco de incêndio florestal tem sofrido um agravamento considerável. Por outro lado, a redução da rentabilidade da actividade florestal e o consequente desinteresse pela actividade económica florestal são geradores de desincentivo crescente neste sector. O aumento dos incêndios florestais e o aumento de povoamentos degradados e pouco produtivos contribui para uma floresta debilitada onde a desarticulação social, ambiental e económica é evidente. Se a estes factores adicionarmos o subaproveitamento dos diversos produtos resultantes da floresta tais como a caça e a “exploração” dos cogumelos selvagens e o aumento da competitividade internacional neste sector chegamos a um panorama de desinteresse geral pontuado apenas positivamente pelas associações de produtores florestais que tentam dinamizar e desenvolver o mercado da floresta em Portugal.


JRA: Acha que será possível evitar a submissão da costa portuguesa provocada pelo Aquecimento Global?

CB: O impacte das alterações climáticas nomeadamente no aumento do nível médio das águas do mar não pode ser evitado, no entanto, a sua repercussão pode ser minimizada através da adopção de medidas de adaptação. Os estudos nesta matéria prevêem a possibilidade de ocorrência de aumentos do nível médio do mar, na costa portuguesa, entre 0,6m e 1m, dependendo das características da morfologia local para além das alterações na agitação marítima que poderão originar um agravamento de 15 a 25% no ritmo da erosão costeira em alguns troços do litoral. Os impactes destas alterações dependem fortemente da adopção de medidas de adaptação, nomedamente:
§ o aumento da eficiência das operações de limpeza das linhas de água, valas e outros estruturas de drenagem de águas superficiais ;
§ o reforço da eficácia dos instrumentos legais que interditam a ocupação de áreas susceptíveis à inundação, tais como os leitos de cheia;
§ o aumento da capacidade de modelar e cartografar o potencial de inundação da faixa costeira à escala nacional considerando diferentes probabilidades de ocorrência;
§ a elaboração de sistemas de alerta fundamentados na previsão meteorológica de curto prazo.
As medidas de adaptação à erosão costeira têm de ser equacionadas no âmbito do planeamento apoiado em estudos integrados, multidisciplinares, que devem incluir um conjunto de possíveis estratégias específicas de adaptação. Nenhuma destas medidas terá qualquer resposta se não forem encaradas por todos nós como uma responsabilidade comum. Assim, o aumento do investimento na informação e educação da sociedade civil é um factor fundamental.


JRA: Que medidas acha necessárias para combater mais eficazmente os incêndios florestais?

CB: A prevenção será sempre a arma mais eficaz no combate aos incêndios florestais em Portugal e em qualquer parte do Mundo. A responsabilidade individual de cada cidadão e a responsabilidade colectiva de um país têm que constituir a ponta de lança no que refere à prevenção dos incêndios florestais. A forma como cada um de nós é responsabilizado pela gestão dos perímetros florestais onde a nossa habitação se encontra enquadrada, a forma como as propriedades florestais de nossa pertença são geridas e finalmente a responsabilidade do Estado na gestão dos espaços públicos e na implementação de regras com objectivos estratégicos de longo-prazo. Os incentivos à implementação de práticas de prevenção eficazes à minimização da deflagração e propagação dos incêndios florestais são a forma mais eficaz de prevenção dos mesmos. O desincentivo do abandono de terras florestadas através da aplicação de sanções e o incentivo à reflorestação de áreas ardidas recorrendo a espécies autóctones, muitas vezes, resistentes aos fogos, constituem o papel estimulador e interventivo que o Estado deve ter. As medidas fundamentais para a prevenção dos incêndios florestais centram-se na promoção de soluções que procurem resolver a questão da propriedade florestal, incentivos fiscais para a promoção da boa gestão florestal e a criação de acções que promovam as descontinuidade das manchas florestais. O correcto planeamento dos aceiros e a planificação de reservas de água estratégicas constituem vectores fundamentais para a gestão da floresta portuguesa e, consequentemente, a gestão dos incêndios florestais em Portugal. O poder local tem que ter um papel activo na implementação dos regulamentos que visam o fomento da florestação, recuperação de áreas ardidas, e as acções de fiscalização e controlo. Tornar a floresta portuguesa economicamente viável e ambientalmente sustentada constitui o fio condutor para a sua preservação e crescimento. Um outro factor que necessariamente tem que ser valorizado é o da informação ao público. Num país onde 97% dos incêndios têm origem na actividade humana o empenho em campanhas de sensibilização e responsabilização tem que ser um objectivo principal da acção dos nossos governantes. A minimização de comportamentos de risco e a sensibilização para a importância da floresta como elemento fundamental do equilíbrio ecológico constituem pilares fundamentais para a sensibilização da nossa sociedade.
A detecção e intervenção atempadas de um incêndio florestal constituem um dos principais factores de sucesso para a eficácia do seu combate. Após a detecção de um incêndio florestal, a primeira intervenção reveste-se de um carácter prioritário tanto em termos de tempo de resposta como de adequação de meios e estratégias. Neste sentido, a divulgação do índice meteorológico de risco de incêndio e a sua utilização para a gestão adequada dos meios disponíveis para as regiões mais críticas, constitui um importante passo na gestão de recursos para um combate mais eficaz.


JRA: Tendo em conta a legislação nova, o que considera ser(em) boa(s) ou má(s) medida(s)?

CB: O Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI) define uma estratégia e um conjunto articulado de acções com vista a fomentar a gestão activa da floresta, criando condições propícias para a redução progressiva dos incêndios florestais. Para alcançar os objectivos, acções e metas estabelecidos no PNDFCI, recomendam-se intervenções em três domínios prioritários: prevenção, vigilância e combate. Este plano tem como grandes objectivos estratégicos a redução da área ardida para valores equiparáveis à média da área ardida nos países Mediterrânicos, a eliminação dos grandes incêndios, a redução do número de incêndios com área ardida superior a 1 ha e a redução do número de reacendimentos. O objectivo deste plano centra-se na redução da área ardida anual para valores inferiores a 100 000 ha até 2012. As soluções apontadas assentam numa maior eficácia nas acções de prevenção, vigilância, detecção e fiscalização, numa maior capacidade operacional e numa maior unidade no planeamento do comando das operações de combate. O envolvimento dos municípios é claramente evidenciado por este plano. Ao nível municipal têm que ser estabelecidos critérios e medidas objectivas nesta temática. O estabelecimento de planos municipais de intervenção nas florestas nomeadamente através da criação de redes de gestão de combustível, uso de técnicas de fogo controlado e criação de faixas de protecção são algumas das medidas a implementar ao nível local. Os municípios passam também a ter um carácter preponderante no que respeita à sensibilização da sociedade para a problemática dos incêndios florestais, através de acções de informação e divulgação. Cada uma das medidas propostas constitui um passo significativo que terá tanto sucesso quanto o empenhamento com que cada município o encarar.


JRA: Sever do Vouga é um concelho onde prolifera o cultivo de eucaliptos, uma planta exótica. Que incentivos daria às pessoas para plantarem as plantas originárias?

CB: O legislador tem o poder de criar incentivos financeiros que tornem “apetecível” a plantação e exploração de determinadas espécies florestais. O desenvolvimento sustentado da floresta portuguesa assente nos pilares da diversidade ambiental, viabilidade económica e função ecológica, tem que constituir a força motriz para a recuperação da floresta autóctone portuguesa.
O produtor florestal tem de ser dotado de meios e incentivos que lhe permitam olhar a floresta como um bem vital, economicamente viável e socialmente indispensável. A implementação de medidas de carácter fiscal pode significar a diferenciação entre o abandono florestal e a reflorestação. Mais ainda, o acento tónico desses incentivos tem que se fazer sentir sobre as espécies autóctones, como forma de recuperar identidades sociais e funções ecológicas.


JRA: O que mudaria se, actualmente, fosse Ministro do Ambiente, no que respeita à gestão das florestas?

CB: A gestão das florestas em Portugal encontra-se sob a jurisdição do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, no entanto, o Ministério do Ambiente desempenha um papel preponderante de cooperação nesta temática.
É preciso uma política agro-florestal sustentável e medidas de fundo, como o desenvolvimento de uma estratégia de desenvolvimento sustentável da floresta, o investimento no estímulo das espécies autóctones e na gestão florestal.
As medidas a implementar para uma eficaz gestão florestal centram-se nos seguintes pontos:
Consolidação da propriedade;
Profissionalização da gestão florestal;
Simplificação dos cadastros;
Reforma fiscal das florestas.
Por outro lado o fomento do associativismo florestal como a base de suporte ao pequeno proprietário florestal pode constituir o fio condutor entre as estratégias de desenvolvimento sustentável para a floresta e a sua implementação no terreno. Neste contexto, as associações florestais funcionam não só como fonte de informação como podem disponibilizar serviços especializados, viabilizando e estimulando os proprietários a investir na gestão florestal. O serviço público da floresta e o papel desta em termos de externalidades confere-lhe um valor patrimonial e social que não pode ser negligenciado pelos governantes.

Jovens Repórteres para o ambiente do 9ºA: Ana Carvalho, Bruna Costa, Cândida Coelho, Carla Sofia, Cátia Coutinho, Davi Oliveira, Diogo Carvalheira, Fábio Pereira, Fábio Dias, Joana Martins, João Lucas, José Costa, Regina Pereira, Renato Pinho, Ricardo Coutinho, Rita Pereira, Sérgio Carvalheira, Xavier Sousa
Coordenador: Professor Luís Silva

quarta-feira, março 29, 2006



Lei e florestas - que futuro?

Entrevista ao advogado Dr. José Manuel Almeida e Costa, por Jovens Repórteres para o Ambiente

De acordo com informações de que os Jovens Repórteres para o Ambiente dispõem, a legislação relativa à limpeza das matas irá ser alterada, neste ano. Contudo, como jovens sempre em busca da verdade e procurando ampliar o seu conhecimento, resolveram procurar informações junto de um advogado, a pessoa indicada para ajudar nesta tarefa. Dr José Manuel Almeida e Costa, advogado de Sever do Vouga aceitou este desafio e dispôs-se a conceder a entrevista que se segue.

Jovens Repórteres para o Ambiente: Que regime legal vigora, no que respeita à floresta, em Portugal?

Dr. Almeida e Costa: Em 2005 e 2006 ainda não foi publicada nenhuma legislação sobre o tema em apreço, pelo que o Sistema Nacional de Prevenção e Protecção da Floresta contra Incêndios encontra-se regulado pelo Decreto-Lei nº 156/2004, de 30 de Junho, que ainda se encontra em vigor.

JRA: Que razões encontra para que a legislação seja alterada?

DAC: O Governo tenciona alterar a legislação, talvez em virtude da proliferação de incêndios no Verão passado, tendo em vista a adopção de medidas e acções, impostas a entidades públicas e privadas, no sentido de alcançar uma defesa eficaz do património florestal nacional.

JRA: Que obrigações passarão a ter os habitantes possuidores de pinhais?

DAC: Os possuidores de pinhais situados em espaços rurais são obrigados a efectuar a respectiva limpeza numa faixa de largura mínima de 50 metros à volta da habitação, estaleiros, armazéns, oficinas ou outras edificações.

JRA: Poderá facilitar o trabalho dos bombeiros?

DAC: O respeito por esta obrigação legal facilitará, sem dúvida, o trabalho dos bombeiros em caso de incêndio, uma vez que diminui o perigo de ele eclodir e, caso o mesmo, ainda assim, se venha a verificar, facilita a sua intervenção e permite uma maior eficácia no combate ao fogo.

JRA: Que melhorias trará para o ambiente?

DAC: Ao reduzir o risco de incêndios florestais, através da adopção de medidas preventivas, a nova legislação contribuirá para um melhor equilíbrio ambiental, traduzido na prevenção das manchas florestais e na consequente redução da emissão de fumos poluentes.

JRA: Não acharia benéfico para o ambiente e para a limpeza das matas uma “trituradora”?

DAC: Na limpeza das matas é benéfica a utilização de equipamentos que destrocem os resíduos florestais, vulgarmente designados por escarificadores.

Tais equipamentos, para além de reduzir quase a pó o material lenhoso resultante da actividade agro-florestal, deixam-no espalhado pelo terreno, facto que potencia o crescimento de novas árvores.

JRA: Quem beneficia mais, os proprietários ou o ambiente? Porquê?

DAC: Ambos saem beneficiados. Os proprietários, porque conseguem uma exploração mais racional e rentável dos seus espaços florestais. O ambiente, na medida em que a nova legislação visa defender a preservação do nosso ecossistema, no qual a preservação do património florestal assume primordial relevância.

JRA: E, para finalizar, qual a sua opinião pessoal sobre este assunto?

DAC: Pelos mais variados motivos, quer os particulares, quer as entidades públicas, pouco têm feito em prol da defesa do ambiente, designadamente da conservação e melhoria da floresta.

Os proprietários de espaços florestais não têm informação nem incentivos para a respectiva limpeza, arborização ou rearborização. Basta atentar no estado em que se encontram os terrenos que foram devorados pelas chamas.

É desejável que o Estado adopte, de uma vez por todas, uma correcta política agro-florestal, traduzida em campanhas de sensibilização e informação pública, acompanhadas dos necessários incentivos, permitindo um racional aproveitamento dos solos, com vista à defesa da floresta, cuja vitalidade constitui a garantia do equilíbrio ecológico e proporciona a qualidade de vida a que todos aspiramos.

Os Jovens Repórteres para o Ambiente agradecem a disponibilidade do advogado Dr. Almeida e Costa e esperam que a sua abordagem ajude muitos habitantes e os faça pensar um pouco.

Jovens Repórteres para o Ambiente: Ana Henriques, Andreia Costa, Filipa Correia, Maria Martins, Micaela Pereira, Sandra Pereira, Vera Coutinho, alunas do 9ºC

Professor coordenador: Luís Silva

terça-feira, março 28, 2006

Entrevista ao Comandante dos Bombeiros de Sever do Vouga
Jovens Repórteres para o Ambiente (JRA): Quais as etapas por que passam os bombeiros ate chegarem ao local de um incêndio?
Comandante dos Bombeiros, José Carvalho (CBJC): Há o alerta, normalmente por via telefónica, ligando para o quartel ou para o 117, que nos liga a seguir. O 117 é o centro distrital de operações de socorro, tudo o que ocorre no distrito é comunicado para ali. O 117 atribui-nos um número e dá-nos ordem para sair. Segue-se a deslocação para o terreno, sendo que, ao chegarmos, fazemos um reconhecimento da zona que está a arder. De seguida, procedemos a uma análise e vemos a possibilidade de chegar ao local para combater o incêndio. Se chegarmos ao local e virmos que são necessários mais meios, comunicamos ao nosso quartel. Mas se forem necessários ainda mais meios, como por exemplo um helicóptero ou outro, comunicamos ao centro coordenador distrital. Vem, depois, o combate ao incêndio e, por fim, fazemos o rescaldo. Se entretanto não ocorrer mais nenhum incêndio, ficamos de vigilância para ver se há reacendimentos.

JRA: Como acha que estão os acessos em Sever do Vouga?
CBJC: Uma das grandes dificuldades dos combates aos incêndios é a que diz respeito aos acessos. Até há bons acessos, mas só depois de o fogo passar é que eles se vêem, pois estão cobertos de mato e, por vezes, já estão árvores adultas nos próprios acessos, o que dificulta muito o nosso trabalho. Por vezes, há caminhos em muito mau estado de conservação, sem limpeza do mato.
JRA: Como é que acha que está organizado o sistema de vigilância?
CBJC: A vigilância, em 2005, funcionou bem no concelho de Sever, pois havia um grupo de jovens, entre os 18 e os 30 anos, que faziam uma vigilância móvel. Saíam do quartel, pois era aqui que deixavam a viatura da câmara municipal, e deslocavam-se para a parte norte do concelho, nomeadamente Silva Escura, Dornelas, Rocas e Couto de Esteves, e iam exactamente até Lourizela. Regressavam por outros percursos e faziam a volta inversa, mas sempre por outros caminhos. Era uma maneira de nunca se saber a que horas é que eles passavam. Eram dois grupos, um começava às 9 da manhã até às 3 da tarde, e o outro começava às 3 da tarde e terminava às 9 ou 10 da noite. Além destes grupos existiam mais dois grupos, um de militares e um de pessoas mais adultas. Os militares vigiavam a zona de Sampaio. E o outro grupo vigiava a outra parte do concelho. Bem, em 2005, Sever do Vouga estava protegido, e bem vigiado.
JRA: Que medidas estão a ser adoptadas para melhorar as condições da floresta?
CBJC: Em Maio, foi colocada cá uma engenheira florestal na comissão municipal de defesa da floresta contra incêndios. Neste momento, ela está a elaborar um plano municipal da floresta, em que apresenta as casas isoladas, os caminhos florestais e alguns planos sobre o que acharmos que deve ser restrito em determinadas zonas. Para isso, no dia 17, terça-feira, realizou-se uma reunião com todos os presidentes de Juntas. O responsável pela protecção civil é o Presidente da Câmara, mas por cada freguesia é o Presidente da Junta, por isso, vamos ter reuniões para levantar estes problemas e para ver o que é preciso fazerem em cada freguesia.
JRA: Quais os principais problemas das florestas, em Sever do Vouga, no que respeita à organização?
CBJC: A falta de ordenamento, pois as florestas de Sever não têm ordenamento próprio. Antigamente, a plantação era quase toda de pinheiro, agora é quase só eucalipto. Não há uma planificação correcta e, depois, ao fazerem as plantações, poucos produtores se preocupam em fazer aceiros, linhas de contenção. As únicas que existem são numa zona chamada o Curro, e também numa zona do Braçal. Tirando isso não há nenhuma zona que esteja planificada, de modo a haver uma zona de contenção, para nós podermos actuar melhor.
JRA: Que conselho dá aos severenses para diminuírem os incêndios e preservarem as florestas?
CBJC: A vigilância começa em cada um de nós e se cada um de nós se preocupar em passar pela floresta, em ser vigilante, poderão diminuir muito os incêndios e até podem ser apanhados alguns incendiários. Os severenses deviam limpar mais as matas, e tentarem pedir à Câmara Municipal para melhorar os acessos e também construir mais pontos de água. Já existem alguns terrenos para receber esses tanques de água, mas tais ainda não foram colocados. Até já tivemos situações em que precisávamos deles e não os tinham feito.
Jovens Repórteres para o ambiente (9ºD): Fábio Almeida, Cristiano Jesus, Carlos Martins, Sérgio Soares, Tiago Rocha, Tiago Filipe

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Sever como meio natural
Mancha Florestal de Sever do Vouga

A mancha florestal de Sever encontra-se numa monocultura exagerada de eucaliptos que trazem alguns problemas para o nosso meio e existem alguns aspectos para mudar para que neste próximo Verão não sejamos levados pela onda de incêndios e escassez de água.

No âmbito do projecto “Os Jovens Repórteres para o ambiente”; um grupo de alunos do 9ªA, partiu à descoberta sobre a nossa mancha verde. A floresta de Sever do Vouga é constituída sobretudo por eucaliptos e pinheiros-bravos, sendo o eucalipto uma espécie exótica e o castanheiro e o pinheiro, por exemplo, espécies locais. O cultivo de eucaliptos torna-se uma excessiva monocultura, um pouco prejudicial ao nosso ambiente.
Em 2005, Sever não foi excepção quanto à questão dos incêndios, com 12 hectares de área ardida, divididos pelas várias freguesias.
Mas, já pensou nas causas desses incêndios?
Os eucaliptos são plantas que provocam a acidez do solo, que diminuem os lençóis de água e que também ajudam à sua erosão. Resumindo, os eucaliptos são plantas que, por vezes, dão ajuda no alastramento dos fogos e na falta de água, não sendo, contudo, um problema difícil de resolver, pois limpando as matas, plantando estas árvores em filas, para abrir acessos, e com mais folhosas esse problema não aparecerá tão depressa à porta de sua casa.
Um comportamento muito simples que pode evitar que veja o lume à sua porta…

Como parte da nossa pesquisa, entrevistámos a engenheira Cristina, engenheira florestal de Sever do Vouga, para nos esclarecer no que respeita a algumas das nossas dúvidas. Para veres a entrevista, visita www.coisasdesever.blogspot.com.
Ana Rita, Steven, Tiago Soares, Hugo, Diogo, Micael (9ºA)
Professor Luís Silva

quinta-feira, janeiro 13, 2005


Entrevista a António José Martins Coutinho
Vereador do ambiente da Câmara Municipal de Sever do Vouga


JRA (Jovens repórteres para o ambiente): Acha que Sever do Vouga é um concelho rico em regatos e cursos de água? Que benefícios é que o concelho pode colher?
AJC (António José Coutinho): Sim, uma das grandes características deste concelho é a natureza e a parte da água, como os muitos cursos de água que atravessam o nosso concelho e as magníficas cascatas que este possui. Os benefícios que o concelho colhe incidem na área turística, principalmente, na prática de desportos radicais. Eu penso que é especialmente por isso, por ter características adequadas a estes desportos.

JRA: Como está o estudo dos regatos e cursos de água do concelho de Sever do Vouga?
AJC:
Eu penso que, felizmente, grande parte deles está quase virgem em termos de poluição. Direi que alguns deles não têm poluição, dependendo da dimensão, talvez o Vouga seja o mais poluído. Anteriormente, o Gresso era poluído devido ao despejo da Lacticoop, mas, entretanto, a empresa montou uma estação de tratamento, mas os outros estão quase limpos.

JRA: O que tem sido feito, neste concelho, para a preservação destes recursos naturais?
AJC: Todos os anos é feita uma recolha de lixo no Vouga. A associação Quercus também ajuda de certa forma com campanhas de limpeza e a Câmara com os seus meios de divulgação turística. Penso que, hoje em dia, as pessoas estão mais sensibilizadas para não os poluir.

JRA: Acha que a legislação em vigor está orientada para a preservação de regatos naturais e cursos de água?
AJC:
Sim, acho que já tem alguma direcção nesse sentido, mas continua a haver uma falta de fiscalização por parte do Ministério do Ambiente. Acho também que as coimas deveriam ser mais severas e mais duras, pois só assim se fazia aplicar a lei.

JRA: Se fosse deputado, quais seriam as alterações que fazia em relação a esta matéria?
AJC:
Aproveitava o que já existe em relação a isto e tentaria que a legislação fosse mais severa, como já disse, e mais dura nas coimas a aplicar. A execução da lei e a aplicação das punições contribuiria para uma boa prevenção. Também acho que deveria haver uma lei que proibisse a plantação de eucaliptos nas margens dos rios. Como se pode ver, as margens do rio estão «inundadas» de eucaliptos. Deveria haver mais segurança para que, nas margens do rio, só existissem as espécies naturais e espécies autóctones.

Jovens Repórteres para o ambiente: Tiago Silva (11ºB), Marco Rafael (11ºB), Pedro Emanuel (11º A); Professores coordenadores: Luís Silva, Licínio Cardoso, Isabel Capela e Ana Carla Dias


terça-feira, dezembro 21, 2004

Flora típica de Sever do Vouga - entrevista

Paulo Machado Licenciado em Eng. Florestal Técnico da Secção Florestal Coop. Agrícola de Sanfins Sever do Vouga


A região de Sever do Vouga tem uma significativa mancha florestal. Dessa mancha que percentagem é ocupada por eucaliptos?

Cerca de 35 % da área total do concelho e 48% da área florestal do concelho, com tendência para um grande crescimento destas percentagens.

O que diz a lei sobre esta matéria?

Segundo o DL 175/88 de 17 de Maio, as arborizações e rearborizações com espécies de rápido crescimento (onde se inclui a espécie Eucalyptus) que envolvam áreas superiores a 50 ha estão condicionadas a autorização prévia da Direcção Geral dos Recursos Florestais (DGRF). Sendo que, os povoamentos preexistentes contam para o limite referido de 50 ha e consideram-se contínuos quando distem entre si menos de 500 m. No entanto sempre que na área territorial do município exista uma área de eucalipto superior a 25% do seu território (que é o caso do concelho de Sever do Vouga – Referido na portaria 513/89 de 6 de Julho), deveram todas as acções de arborização e rearborização ser objecto de parecer prévio da DGRF, independentemente da sua dimensão.
No mesmo sentido também a portaria 528/89 de 11 de Julho proíbe a florestação de áreas de Reserva Agrícola Nacional (RAN) (classificadas de capacidade de uso A e B), é condicionada a florestação de áreas percorridas por incêndios, é condicionada a florestação de solos da Reserva Ecológica Nacional (REN), é proibida a plantação ou sementeira destas espécies a menos de 20 m de terrenos cultivados e a menos de 30 m de nascentes, terras de cultura regadio, muros e prédios urbanos, as manchas contínuas de uma só espécie nunca deverão exceder 100 ha, devendo essas manchas ser cantonadas por faixas de folhosas mais resistentes ao fogo.


Quando são excedidos os limites previstos na lei, que tipo de penalizações podem ser aplicadas? São frequentes essas penalizações?

As penalizações podem variar de 250 € a 15 000€, dependendo da infracção ocorrida ou podem ser arrancadas as árvores no caso do incumprimento dos limites de 20 m e 30 m referidos.

Que tipo de benefícios trouxe para esta região a aposta no eucalipto? Podemos dizer que há custos? Quais?


Em primeiro lugar o eucalipto trouxe grandes benefícios económicos, tornando-se um dos maiores recursos naturais da região, ocupando alguns terrenos outrora explorados por actividades agrícolas (agricultura e pastoreio). No entanto, aliciados pelos lucros rápidos desta espécie e induzidos pelo hábito que, como portugueses, temos de copiar os outros sem pensar em alternativas, transformou-se esta região num eucaliptal quase contínuo. Esta exploração de eucalipto em monocultura sem gestão tem-se reflectido em perdas económicas e ecológicas provocadas pelos incêndios florestais, perdas ecológicas provocadas pela falta de biodiversidade e consequente perdas de solo muito graves.
Não queria deixar de dizer que o problema não é só do eucalipto, mas fundamentalmente do Homem que não tem sabido gerir os eucaliptais, plantando-os desenfreadamente sem qualquer tipo de gestão, pois o eucalipto pode e deve ser plantado mas com regra e bem gerido, como qualquer povoamento florestal. Por isso, atrevo-me a dizer que a grande praga pode não ser o eucalipto mas sim o ser humano que quer lucros rápidos sem gerir os seus recursos pensando no futuro.


Uma vez que o eucalipto é uma espécie importada e por isso designada como exótica, que espécies existiam nesta região?

As espécies florestais que existiam nesta região antes do aparecimento do eucalipto, ainda existem, mas em muito menor representação, ocupando pequenos bosquetes de difícil acesso. A título de exemplo, podemos referir o Carvalho alvarinho (Quercus robur), Sobreiro (Quercus suber), Cerejeira brava (Prunus avium), Castanheiro (Castanea sativa), Salgueiro (Salix sp), Freixo (Fraxinus angustifolia), Nogueira (Juglans regia), Pinheiro bravo (Pinus pinaster), etc.


Em que espécies seria aconselhável investir hoje?

As espécies mais indicadas para as próximas arborizações são as folhosas (carvalhos, cerejeiras, freixos, nogueiras, etc.) que vão criar descontinuidades nas áreas de eucalipto, transformando-se em áreas de produção de madeira de qualidade (das quais somos deficitários) e barreiras a progressão dos agentes nocivos à floresta, quer sejam os incêndios florestais ou as pragas e doenças. Com a utilização destas espécies também aumentamos a biodiversidade, abrindo caminho para a exploração de outros recursos da floresta, como a caça, produção de cogumelos, ervas aromáticas, apicultura, turismos, etc.



Como incentivar a população para o cultivo de uma maior diversidade de espécies? Por onde começar?

Em primeiro informando os proprietários que ao plantar folhosas estão a proteger os eucaliptais, pela sua capacidade de criar barreiras aos agentes nocivos da floresta. Em sequência deste efeito evitamos incêndios que são maléficos para a qualidade do ambiente e põem em perigo as habitações e as pessoas. Aumentam a biodiversidade que minimiza os problemas ecológicos provocados pelo eucalipto. E por fim são grandes produtoras de madeiras de elevada qualidade e por conseguinte de elevado preço.

Jovens Repórteres para o Ambiente envolvidos neste trabalho: Ana Filipa Fernandes da Cruz, Bruno Ricardo Coimbra Rodrigues, Íven Emanuel Nunes Mendes, Ricardo André Rodrigues Correia, coordenados pelos professores Licínio Cardoso, Isabel Capela, Ana Carla Dias e Luís Silva.

terça-feira, dezembro 14, 2004

JRA - Um projecto de parceria entre Voz Regionalista e Secundária de Sever do Vouga

A Associação da Bandeira Azul Europeia (ABAE) vem despertando as escolas do país para a importância de sensibilizar os alunos para a causa do ambiente como preocupação de todos. Neste contexto, vem dinamizando, nos últimos anos, um projecto – Jovens Repórteres para o ambiente - destinado a alunos do ensino secundário. Com esta dinâmica, em que o protagonismo é conferido aos alunos, visa-se despertar para o valor da preservação ambiental, realizando, também, a intenção de desenvolver competências jornalísticas. O mesmo jovem, que se torna sensível para a causa do ambiente, aprende, ainda, a noticiar os factos que a ele respeitam.
A escola secundária de Sever do Vouga, que se associou a este projecto desde há quatro anos, realizou, no ano transacto, um trabalho de parceria com o jornal Voz Regionalista, que prontamente manifestou disponibilidade para se tornar cúmplice nesta causa.
Neste contexto, dando continuidade a esta cumplicidade já iniciada, o projecto verá, nestas páginas, ser perpetuado e publicitado o trabalho dos alunos que vierem a envolver-se, sob a coordenação dos professores Ana Carla Dias, Isabel Capela, Licínio Cardoso e Luís Silva, seguindo um caminho cujo rumo deixamos entrever:
- em Dezembro, será abordada a problemática da flora autóctone da região;
- em Janeiro, a poluição nos regatos e cursos de água;
- em Fevereiro, a agricultura, desafios da relação entre progresso e ambiente;
- em Março, a poluição sonora;
- em Abril, os perigos da água de consumo doméstico;
- em Maio, paisagem e urbanismo;
- em Junho, os comportamentos de Verão – incêndios e práticas humanas.
Para definir rumos e consolidar práticas, serão tidas em conta as conclusões do Seminário Nacional, realizado nos dias 18 e 19, em Sever do Vouga.

Luís Silva
(Professor coordenador na escola sec. de Sever do Vouga)

quinta-feira, junho 24, 2004

Sever do Vouga: ambiente e turismo - os desafios que se impõem

Entrevista à Região de Turismo, Rota da Luz
Dr.a Maria Manuel Vilhena, técnica de promoção da Região de Turismo da Rota da Luz.


JOVENS REPÓRTERES PARA O AMBIENTE (JRA) – No quadro global de características que constituem a região Rota da Luz, que
aspectos definem a especificidade de Sever do Vouga?

DR.A MARIA MANUEL VILHENA (MMV) - A Região de Turismo Rota da Luz caracteriza-se, essencialmente, pela
dualidade litoral / montanha. Um litoral banhado por um mar iodado e areias douradas. Uma zona de montanha, onde paisagens verdejantes e águas cristalinas proporcionam admiráveis momentos de contacto com a natureza. A uni-los, a Ria, extensa superfície de água, onde os barcos moliceiros, de velas brancas ao vento, nos encantam pela beleza cromática das suas pinturas.
A transição do meio lagunar com a zona de montanha faz-se através do Rio Vouga que, antes de desaguar na Ria de Aveiro, atravessa o concelho de Sever do Vouga, dando lugar a um extenso vale de aluviões com elevada produtividade agrícola. Sever do Vouga situa-se entre dois grandes sistemas de elevação que prolongam os maciços da Gralheira e do Caramulo, as serras do Arestal e das Talhadas.
Desta situação privilegiada, o Concelho de Sever do Vouga oferece uma gama variada de produtos e potencialidades turísticas, sendo de realçar as vertentes do Turismo de Natureza, onde Empresas locais e nacionais desenvolvem desportos de aventura, o chamado Turismo Activo e o Turismo Cultural, onde a gastronomia e o artesanato são uma referência da Região. No aspecto de alojamento, merece destaque o TER (Turismo em Espaço Rural), unidades já existentes e outras em fase de projecto – um tipo de alojamento que permite um contacto mais directo com as vivências dos naturais do concelho.

(JRA)– Como têm sido rentabilizadas essas especificidades?
(MMV) – Essas especificidades são uma mais-valia para a oferta Turística não só do próprio concelho, mas também da Rota da Luz, pelo que são divulgadas nas Acções Promocionais onde esta Região de Turismo participa, tanto no Mercado Interno, como no Mercado Externo. O próprio município de Sever do Vouga, nas diversas actividades de divulgação que desenvolve, sempre engloba a vertente do turismo, como por exemplo, na Festa da Lampreia, na Feira da e Laranja do Mel, na FicaVouga. A Casa do Artesão, partilhando o espaço com o Posto de Turismo da Rota da Luz, constitui um convite permanente ao visitante para divulgação conjunta dos recursos locais. Os artesãos e empresas vocacionadas para o turismo têm no Posto de Turismo local e na Região de Turismo uma base para divulgação das suas actividades.
Na promoção, no Mercado Interno a Rota da Luz desenvolve acções a nível local, regional e nacional, em Feiras ou Mostras de Turismo – ou com a componente Turismo, em Workshops e em Eventos de Animação Cultural e Desportiva, dando a conhecer os seus produtos e potencialidades, disponibilizando espaço para a presença dos empresários e Artesãos, ou distribuindo o seu material.
No Mercado Externo, a Promoção da nossa oferta turística é feita em conjunto com as outras três Regiões de Turismo que integram a área promocional Beiras – RT Centro (Região de Turismo de Coimbra), RT Dão Lafões (Região de Turismo de Viseu) e RT Serra da Estrela (Região de Turismo da Serra da Estrela), o que permite não só uma redução nos custos relativos à presença, como uma maior oferta de produtos, pela complementaridade dos seus recursos.

(JRA)- Que projectos estão a ser desenvolvidos no sentido da promoção do Eco-turismo
em Sever do Vouga? Que papel tem tido a Rota da Luz nesse processo?

(MMV) – A Rota da Luz, através das suas Técnicas de Informação colocadas nos diferentes Postos Concelhios de Atendimento Turístico, procedeu ao levantamento dos Moinhos existentes na área da Região de Turismo estando, nesta altura, a ser efectuado todo um trabalho na Universidade Lusíada, que irá levar à execução de uma Monografia “Moinhos na Rota da Luz”, folhetos concelhios e um genérico sobre a mesma temática e dos quais constam diversos Percursos para a sua visita. Tendo em vista a recuperação de alguns moinhos, os seus proprietários foram informados da legislação existente, conducente à sua recuperação.
Estão, também, a ser desenvolvidos Percursos Pedestres no Concelho que visam a preservação e dinamização do património natural, cultural e artístico, através da divulgação e fruição das suas paisagens, tradições, artes e actividades rurais.

(JRA)- Com que obstáculos se têm deparado as iniciativas de promoção de um turismo
respeitador do ambiente, neste concelho que dá sinais de, finalmente, estar a despertar para as potencialidades com que está dotado pela natureza?

(MMV) – Julgamos que o maior obstáculo ao desenvolvimento de um turismo respeitador do ambiente se prende com dificuldades que têm a ver com interesses públicos e privados, sendo nossa a tarefa de tentar conciliar ambos os sectores. Outro factor com que nos deparamos tem a ver com a falta de formação e de informação quanto aos benefícios que podem ser retirados desta forma de promover o concelho / região. Aqui, as Escolas poderão ter um papel fundamental nesta formação, porque as crianças e os jovens poderão, mais facilmente, ser os transmissores e sensibilizadores desta problemática, junto das suas famílias e amigos.

(JRA)- Que interpelações faz a Rota da Luz a Sever do Vouga para que se torne um
modelo de uma boa política de articulação entre Ecologia e Turismo?

(MMV) – A Região de Turismo Rota da Luz, além de um muito eficaz relacionamento com a Câmara Municipal, tem um seu representante no Concelho de Sever do Vouga – a Técnica de Informação do Posto de Turismo Concelhio – que, conhecedora profunda da realidade aí existente e muito preocupada com os aspectos ligados ao ambiente, tem desenvolvido uma boa articulação entre o Turismo e os aspectos ecológicos, nomeadamente no aspecto de dinamizadora das Actividades Tradicionais de Sever do Vouga, dos Percursos de Natureza e intermediária entre as Empresas que desenvolvem estas actividades e os turistas e visitantes.


Entrevista realizada pelos Jovens Repórteres para o Ambiente do 10ºE da Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico de Sever do Vouga: Ana Catarina Oliveira, Ana Filipa Martins, Ana Maria Pinho, Anabela Pinho, Diana Rodrigues, Leandro Morais, Sandra Ferreira, Sofia Araújo, Hélder Silva
Professores coordenadores: Luís Silva e Ana Carla Dias.

segunda-feira, maio 24, 2004

ENTREVISTA
PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DE MUNICÍPIOS DA RIA, ENG. RIBAU ESTEVES


1. O que visa a associação de municípios da Ria de Aveiro?
Com a eleição dos novos orgãos dirigentes da Associação de Municípios da Ria (AMRia), que assumiram funções no passado dia 14 de Fevereiro 2002, entrámos numa nova fase de vida que se pretende mais estruturante e consequente, num trabalho de contribuição para o desenvolvimento desta importante região de Portugal.
Assumimos para a gestão da AMRia neste mandato 2002/2005, três objectivos fundamentais:
A. Revitalizar a AMRia, porque entendemos que é importante que tenha uma vida mais intensa, uma presença mais forte junto da Ria e dos parceiros que podem ser agentes de desenvolvimento desta região. Este objectivo passa também pela realização de um trabalho interno, junto de cada um dos onze Municípios associados, para que a Associação tenha mais vitalidade e capacidade de realizar;
B. Assumir como prioritário o dossier da gestão e jurisdição da Ria de Aveiro, matéria fundamental e da maior importância. Sendo um dossier complexo, antigo e cheio de momentos de paragem ao longo do tempo, ele é básico para o futuro da Ria de Aveiro, exigindo um trabalho intenso e em parceria com o Governo. Entendemos que Ria tem de ter uma gestão integrada e dedicada, com um novo modelo de gestão que lhe dê mais autonomia e a liderança dos Municípios. A Ria de Aveiro tem de ser gerida com capacidade própria e muito mais investimento, estando o centro de decisão dentro do seu espaço geográfico e facilmente acessível aos cidadãos;
C. Constituição de um pacote de projectos, com origem em cada uma das Câmaras Municipais associadas e na própria Associação; projectos que sejam importantes para o desenvolvimento e a promoção da Ria de Aveiro, e assumidos pela A.M.Ria como seus no seu conjunto, lutando junto do Governo e dos gestores dos Fundos Comunitários pela sua materialização, inserindo-se no âmbito de uma intervenção estratégica, planificada e estruturante, na qual o ambiente e o Homem funcionem como peças importantes dessa mesma realidade única: a Ria de Aveiro.
O desafio é pois fazer mais e melhor trabalho, somando às realizações do passado, com especial referência para os estudos e obras do projecto de despoluição da Ria de Aveiro, e às energias das Câmaras associadas, as capacidades das forças vivas desta região - empresas, associações e entidades públicas -, apostados que estamos em construir uma região com mais qualidade de vida, optimizando a Ria de Aveiro, património com potencial de excelência.

2. Que vantagens advêm, para o concelho de Sever do Vouga, da integração no projecto AMRIA? Ou teremos de procurar outra ordem de perspectivas?
Independentemente de ser sempre importante que os Municípios procurem perspectivas para aproveitamento de oportunidades em vários níveis, considero que uma associação de Municípios tem sempre vantagens para os seus membros, aumentando a sua maior capacidade de realizar.
Devendo deixar a referência ao facto de Sever do Vouga ser o único Município da AMRia que não é fundador, julgo que os exemplos da formação profissional dos funcionários da Câmara Municipal, a presença em campanhas promocionais da região em que se integra, o financiamento de vários projectos da Câmara Municipal e de outras entidades do Concelho de Sever do Vouga, no âmbito do Programa Aveiro Digital 2003/2006 (POSI), são exemplos concretos das vantagens para o Concelho de Sever do Vouga que advêm da sua presença na AMRia, existindo um outro conjunto de frentes de trabalho, em fase ainda não visível (procura de financiamento), entendo o balanço como positivo.

3. A existência da AMRIA é uma afirmação clara de que os problemas da poluição/do ambiente não se resolvem sem soluções amplas, que vão para além da mera intervenção nas manifestações. O que tem feito a AMRIA no sentido da sensibilização das populações que integram os municípios envolvidos?
A AMRia foi herdeira do projecto de despoluição da Ria de Aveiro, elaborado pelo Gabinete da Ria de Aveiro da Universidade de Aveiro, tendo desenvolvido o projecto e realizado um conjunto de obras (ETAR’s e Estações Elevatórias) para tratar os efluentes produzidos e evitar o seu despejo na Ria sem tratamento. Esse projecto foi entregue à SIMRIA, que tem prosseguido a sua implementação no terreno, tendo como resultado a melhoria substancial da qualidade das águas da Ria de Aveiro. Todo este trabalho tem sido desenvolvido, com a sensibilização dos Municípios e das populações para a sua participação nesta tarefa que é de todos. Temos no entanto que continuar a fazer muito investimento de sensibilização da população, para que a sua adesão a estas importantes tarefas, continue a ser crescente.

4. Quais as maiores dificuldades com que se tem deparado a AMRIA para alcançar os seus objectivos?
Além da capacidade legal limitada que as Associações de Municípios têm, situação que está em fase de alteração com a implementação das Áreas Metropolitanas (com mais capacidade legal), sempre os recursos financeiros são limitados, e também é verdade que entre o período da entrega do projecto de despoluição da Ria à SIMRIA e meados de 2002, os Municípios associados viveram com pouco envolvimento a vida da AMRia.
Estamos agora a preparar a transição da AMRia para a Área Metropolitana de Aveiro.

5. Que implicações podem advir de uma má gestão do tratamento das águas residuais?
A poluição das águas dos lençóis freáticos e dos cursos de água superficiais, é a consequência directa da má ou da não gestão do tratamento das águas residuais, com consequências negativas para a qualidade da água de consumo, ou das águas de aproveitamento agrícola e de lazer, com incidências que podem chegar a afectar a saúde pública.

6. No contexto global desta associação, haverá, certamente, problemas específicos de cada concelho. Que problemas particulares afectam o concelho de Sever do Vouga?
Uma das regras da gestão das Associações de Municípios é de respeitar a gestão, do que é estritamente Municipal, da Câmara Municipal associada, pelo que não me detenho com pormenor na resposta a esta pergunta. Referencio que as questões respeitantes à expansão das redes de saneamento básico, à qualificação das margens do Rio Vouga, à construção da Barragem de Ribeiradio, são matérias da maior importância.

7. Como é feito, no concelho de Sever do Vouga, o tratamento das águas residuais?
Há uma ETAR de pequena capacidade, e duas ETAR’s compactas, que tratam cerca de 30% das águas residuais do Concelho, existindo também armazenamento em fossas sépticas. Sendo assim e actualmente, a maior parte das águas residuais do Concelho de Sever do Vouga não são tratadas.

8. O que é que falta fazer para que o concelho de Sever do Vouga possa dar por solucionado este problema?
A Câmara Municipal tem em desenvolvimento a procura de uma solução integrada com outros Municípios (da zona do Médio-Vouga), e deve ser ela a dar nota pública do trabalho que está a realizar sobre esta matéria.



Jovens Repórteres para o ambiente: Ana Carolina Freitas; Bruno Tavares, Ana Cláudia Soares, Carlos Dias, Catarina Tavares, Diana Simões, Dora Rocha, Elisabete Martins, Emanuel Silva, Ivan Teixeira, Joana Martins, Jorge Correia, Juliana da Cruz, Luís Rodrigues da Silva, Marília Luzes, Marlon da Seca, Nuno dos Santos, Sara Alves, Verónica Tavares, Tiago Carvalho, Guilherme Portela

Professores Coordenadores: Luís Silva e Ana Carla Dias

segunda-feira, abril 26, 2004

A Ética ambiental entre(vista)
Manuel João Pires, membro da Sociedade de Ética Ambiental (SEA)


JRA (Jovens Repórteres para o ambiente): Que formação tem na área do ambiente?

R: A minha formação na área do ambiente é de natureza essencialmente filosófica. A licenciatura em filosofia e a investigação posterior que tenho vindo a desenvolver permitiu-me, por um lado, adquirir consciência das questões fundamentais que se colocam actualmente à humanidade no âmbito da ética ambiental e por outro, procurar, de forma sistemática e plural, respostas construtivas para os problemas ambientais nos quais se decide o futuro das gerações futuras, sejam elas humanas ou não-humanas.

JRA: O que foi que o cativou para estar a tirar um doutoramento na área do ambiente? Qual a relevância de tirar um doutoramento na área ambiental?

R: Em primeiro lugar, penso que é necessário esclarecer que o meu projecto de doutoramento situa-se no universo problematológico da filosofia, no qual as questões de ética ambiental possuem, actualmente, um carácter decisivo, em virtude da radicalidade das questões e problemas que coloca, não só aos filósofos, mas a todos nós que, em última instância, somos, acima de tudo, animais filosóficos. Foi a radicalidade das questões da ética ambiental que estiveram na origem da minha decisão de realizar uma investigação nesta área. É importante compreendermos que as questões ambientais não se referem apenas a problemas de ordem política e pragmática como, por exemplo a gestão sustentável dos recursos naturais. A reflexão filosófica na área da ética ambiental coloca necessariamente em questão os nossos quadros de referência tradicionais, em que tanto a natureza no seu conjunto como realidade holística, como os indivíduos não-humanos são pensados como entidades com valor meramente instrumental, destituídos de valor intrínseco e, portanto sem dignidade ou estatuto moral, passíveis, por esta razão, de serem manipulados sem limites de qualquer ordem, em função e em nome dos interesses humanos, independentemente da relevância efectiva desses interesses. As questões com as quais nos confronta a ética ambiental, forçam-nos a repensar a nossa relação com a natureza no seu todo e com os indivíduos não-humanos, na tentativa irrevogável de construirmos, como defendia Aldo Leopold, um dos percursores da ética ambiental, uma Ética da Terra (Land Ethic) que permita aos humanos e não-humanos, habitar em conjunto e de forma sustentável o planeta Terra, a quem James Lovelock, na sua obra que é hoje um clássico da filosofia do ambiente, atribuiu a designação simbólica da deusa grega Gaia. Não reflectir sobre estas questões significa abandonar, voluntariamente, o campo da razão, abdicando, simultaneamente, da nossa condição de animais filosóficos. Não querer abdicar de pensar é a razão pela qual estou neste momento a desenvolver um projecto de doutoramento nesta área.



JRA: Como é que acha que este doutoramento lhe pode vir a ser útil? Que pensa que vai fazer futuramente com o diploma que irá receber?

R: Se calhar devido à minha (de)formação profissional considero que o acto de reflectir sobre questões fundamentais é útil em si mesmo, ou seja, não necessita de qualquer justificação acessória. No entanto, penso que a realização deste projecto filosófico poderá ser útil, não necessariamente para mim, na medida em que procura construir possíveis respostas para algumas das questões decisivas do nosso tempo. Futuramente espero estar a fazer exactamente o que estou a fazer neste momento, reflectir e tentar fazer com que outros reflictam sobre um conjunto de questões decisivas para que possamos construir aquilo que todos, sem excepção, humanos e não-humanos, desejamos – uma vida boa.

JRA: Qual é que acha ser a ideia geral das pessoas em relação à temática do ambiente, nos nossos dias? Qual o grau de receptividade da política ambiental?

R: Considero que na generalidade as pessoas têm alguma consciência dos problemas ambientais e das repercussões que os mesmos podem vir a ter na nossa qualidade de vida. É interessante notarmos que nos resultados de um inquérito realizado pelo Observa, sobre as Representações e Práticas dos Portugueses sobre o Ambiente, o ambiente surge em quarto lugar no que respeito aos problemas do país que mais preocupam os portugueses e 58,2% dos inquiridos declara ser simpatizante dos movimentos e organizações de defesa do ambiente. No entanto, a preocupação ambiental é ainda estruturada no interior de um quadro profundamente antropocêntrico, ou seja, por exemplo, a preocupação com a gestão sustentável dos recursos naturais ou com a preservação das espécies em vias de extinção depende, não do valor intrínseco que a natureza no seu todo ou os indivíduos não-humanos possam ter, mas do interesse instrumental que possuem para a qualidade de vida dos humanos. Além disso, grande parte das pessoas vive numa espécie de «esquizofrenia moral», porque os sentimentos de preocupação ambiental não são acompanhados de práticas coerentes, sendo notória uma assimetria entre os domínios do pensar e do agir. Este facto torna-se evidente quando pensamos, por exemplo, em pessoas que declaram possuir um conhecimento razoável das várias questões ambientais, mas que continuam, ao contrário do célebre Gervásio, a não separar os lixos, ou em pessoas que manifestam grandes sentimentos de compaixão pelo sofrimento a que os animais não-humanos são sujeitos nas unidades de criação intensiva e que continuam, através dos seus hábitos alimentares, a contribuir para a perpetuação desse sofrimento. Não obstante a constatação da existência de uma clara «esquizofrenia moral» penso que as gerações futuras, daí o papel indispensável e decisivo da educação ambiental, poderão alterar verdadeiramente a nossa forma de pensar, aprofundando um conjunto de concepções e crenças que, apesar de estarem já presentes no espírito de muitas pessoas, ainda não adquiriram a força suficiente para provocar uma mudança substancial nas nossas práticas e modos de vida. Penso, portanto, que o nosso destino futuro, depende da capacidade de superarmos o nosso actual estado de «esquizofrenia moral» e assumirmos incondicionalmente a responsabilidade de estabelecermos uma coincidência, o mais perfeita possível, entre aquilo que pensamos e aquilo que fazemos.

JRA: Descreva de forma sumária como é que se poderia realizar uma boa aplicação da política dos 3R’s?

R: Para além de tudo o que foi dito no final da resposta anterior, que de certa forma é a condição necessária para o sucesso de qualquer política ambiental, a primeira condição para realizar com sucesso a aplicação da política dos 3R’s é assumirmos plenamente a nossa responsabilidade comum pelo destino da polis. É necessário que as questões ambientais não sejam delegadas apenas aos políticos profissionais e que todos nós, a quem Aristóteles definiu precisamente como animais políticos, assumamos, como cidadãos, o nosso papel activo e intransferível no seio da comunidade. Em segundo lugar, é necessário que as instituições responsáveis criem condições materiais de concretização das políticas definidas. Finalmente, num sentido totalmente pragmático, é necessário que, através da criação de incentivos, as populações sintam que é do seu interesse concreto e imediato, aderir à política dos 3R’s, uma vez que o relógio não para e não se coaduna com o tempo que as ideias costumam demorar para amadurecer no interior das consciências humanas.

JRA: Que cadeias de resistência impedem a implementação da política dos 3R’s junto do grande público?

R: Penso que o principal obstáculo é a já referida «esquizofrenia moral» que faz com que a consciência dos problemas e a noção da necessidade das práticas, seja insuficiente para alterar comportamentos que se encontram profundamente enraizados nos modos de vida da generalidade das pessoas. Todos sabemos que os sistemas resistem à mudança e tendem a perpetuar práticas que a experiência revelou serem erradas. Infelizmente o nosso conhecido egoísmo ético e psicológico, que faz com que façamos apenas aquilo que julgamos que serve os nossos interesses, impede a assumpção plena de responsabilidade pelas gerações futuras porque, em última análise, é disso que se trata na aplicação da política dos 3R’s. A generalidade das pessoas, não altera as suas práticas quotidianas actuais em função das suas consequências futuras porque, consciente ou inconscientemente, tal como um distinto académico estrangeiro afirmou certa vez numa conferência em Lisboa sobre questões ambientais, «daqui a cem anos estaremos todos mortos». No fundo é este o raciocínio falacioso de muitos de nós. Daqui a cem anos estarei, estaremos, mortos. Logo porque preocuparmo-nos com aquilo que fazemos hoje e com as consequências que isso terá num futuro do qual já não fazemos parte. Esquecem-se, no entanto, de duas coisas óbvias: primeiro de que no futuro viverão os seus filhos, e segundo, como seria actualmente a sua vida se todos os seus antepassados pensassem da mesma maneira?

JRA: Portugal tem condições para se desenvolver procurando que o desenvolvimento se faça respeitando o ambiente?

R: Gilles Lipovetsky, um importante filósofo francês, afirmou que o século XXI será ético ou não será de todo. Em relação a Portugal e ao mundo, poderíamos dizer algo de semelhante: o desenvolvimento far-se-á respeitando o ambiente ou não será desenvolvimento. Actualmente o conceito de desenvolvimento está intimamente dependente do conceito de sustentabilidade, o que significa que é impossível fomentar o desenvolvimento de um país sem ter em conta o respeito pelo ambiente. Portugal tem imperativamente que perspectivar o seu desenvolvimento no respeito pelo ambiente, mesmo porque as áreas com maiores potencialidades no nosso país, como por exemplo, o Turismo, dependem da preservação do ambiente. Se procurarmos afirmar a nossa diferença específica seremos conduzidos à implementação de um conjunto de políticas que sejam compatíveis com o respeito pelo ambiente. É obvio que em Portugal, como nos outros países, existem interesses instituídos que constituem forças de bloqueio à prossecução do desenvolvimento sustentável. Além disso, a política de ambiente no nosso país tem sido alvo de indefinições constantes, que tornam difícil traçar políticas de futuro capazes de abstraírem das pressões e dos interesses restritos ao aqui e agora, para os quais desenvolvimento e sustentabilidade não são sinónimos, uma vez que no seu dicionário desenvolvimento é sinónimo de lucro pessoal e imediato. Além disso, as decisões sobre política ambiental necessitam de uma fundamentação que não se limite à tecnocracia reinante. Se as questões centrais não são técnicas mas éticas, não podem ser os técnicos, que não percebem nada de ética a dar as respostas, sob pena de as mesmas serem inevitavelmente desadequadas ou mesmo perfeitos disparates, o que, infelizmente, sucede com frequência em Portugal. O respeito pelo ambiente estará sempre hipotecado em Portugal e no mundo, enquanto as respostas às questões fundamentais, que em última análise se revestem de uma natureza essencialmente filosófica, continuarem a ser proferidas por quem nada percebe do assunto, leia-se de filosofia, e enquanto muitos de nós e, portanto, muitos dos políticos que têm a responsabilidade de tomarem decisões nesta área, pensarem ainda como o distinto académico estrangeiro.

JRA: Que impacto têm as omissões ou erros no que se refere ao problema do ambiente?

De tudo o que já foi dito, penso que é evidente que os erros e/ou omissões relativamente ao problema do ambiente podem assumir dimensões inauditas e catastróficas, uma vez que é nesse contexto que se decide o futuro de todos nós, humanos e não-humanos. Além disso a resposta aos problemas não pode demorar muito mais tempo, se é que já não é tarde demais. Decisões como a não ratificação do protocolo de Kyoto por parte da administração Norte Americana, ou a nossa resistência em alterar práticas quotidianas simples, são exemplos paradigmáticos da ausência de capacidade de projectar o futuro nas acções do presente. Estes erros e omissões pagar-se-ão caros, talvez não com a nossa vida, mas certamente com a (qualidade de) vida das gerações futuras.


JRA: Ser ecologicamente correcto é rentável?

A resposta a esta questão depende do sentido que dermos à palavra rentável. Se ser rentável é produzir lucros imediatos tenho certas dúvidas, ainda que a denominada «indústria verde» esteja em expansão e nós como consumidores temos, certamente, uma palavra a dizer nesta matéria. No entanto, penso que a questão não é saber se ser ecologicamente correcto é rentável mas sim se é ou não moral, isto é, se temos ou não o dever de o ser. Cabe a cada um de nós – a quem havia de ser? – responder a esta questão.


CV: Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Orienta a sua investigação, essencialmente, nas áreas da ética ambiental, bioética e filosofia contemporânea. Foi colaborador do projecto «Cultura, Natureza e Ambiente» do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Tem realizado algumas comunicações e publicado alguns trabalhos no âmbito das áreas mencionadas, tendo participado como organizador e conferencista, entre outros, nos Colóquio Ética Ambiental. Uma Ética para o Futuro e II Colóquio Nacional de Ética Ambiental. Ambiente, Educação e Valores. É actualmente professor de Filosofia no Ensino Secundário e prepara a sua dissertação de doutoramento, subordinada ao tema Para uma Ética Trágica: Eutanásia e Ética Animal. É membro da SEA (Sociedade de Ética Ambiental).


- Entrevista ao Prof. Manuel João Pires, no âmbito do projecto Jovens repórteres para o ambiente. Projecto desenvolvido pelos alunos do 10ºA, da Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico de Sever do Vouga, Joana Bastos, Joana Nogueira, Ana Catarina Jesus, Cláudia Miranda, Margarida Pereira, Teresa Marques, Vera Marins, Carla Durão, Tiago Tavares, Filipe Romeu, Pedro Emanuel, Tiago Amaral, Gonçalo Lourenço. Professores coordenadores: Ana Carla Dias e Luís Silva.

quarta-feira, abril 21, 2004

QUERCUS EM ENTREVISTA: Eucaliptos em Sever do Vouga: uma praga vestida de ouro?
(A publicar no Voz Regionalista - Maio)

JRA (Jovens Repórteres para o ambiente): Qual a flora típica da região em que se situa Sever do Vouga?

QUERCUS: A flora autóctone de Sever do Vouga é sobretudo formada por carvalhos, nomeadamente o Carvalho roble e o Sobreiro. Os castanheiros também seriam comuns. No sub-bosque seriam frequentes os medronheiros e a Gilbardeira (espécie actualmente classificada por uma Directiva Comunitária – Directiva Habitats).
No entanto, as actividades humanas, nomeadamente a intensa procura de madeira de boa qualidade nos últimos 5 séculos, o pastoreio, as queimadas, os incêndios e mais recentemente a política florestal do último século transformaram por completo o coberto vegetal original (autóctone). Actualmente, este é composto essencialmente por eucaliptos.

JRA: Constitui a proliferação de plantações de eucaliptos uma praga? Que
perigos pode comportar para o ambiente esta introdução de plantas exóticas?

QUERCUS: O eucalipto é de facto uma planta exótica, na medida em que não é originária da península ibérica tendo cá sido introduzida por motivos económicos. No entanto, não se poderá dizer que é uma praga ou uma infestante pois esta espécie não tem a capacidade de proliferar sozinha (sem a ajuda humana). Espécies infestantes ou pragas são aquelas que no fim de introduzidas no meio proliferam intensamente como é o caso das acácias, do Jacinto de água ou no caso da fauna da Perca-sol.
No caso especifico do eucalipto, embora não seja praga, este é problemático para o ecossistema na medida em que o tipo de plantações intensivas efectuadas em zonas muito declivosas contribuem para a erosão dos solos. Além do mais, esta espécie consome muita água, compete com o sub-bosque original prejudicando também a fauna na medida em que esta não encontra num eucaliptal condições ecológicas à sua sobrevivência (alimentação, abrigo, nidificação).

JRA: Que interesses estão em jogo quando se opta por este tipo de árvores em
vez das que constituem a flora indígena?

QUERCUS: Sobretudo interesses económicos. O eucalipto é uma espécie de crescimento rápido, o que aliado ao seu valor para produção de pasta de papel nas grandes celuloses contribui para que seja preferido pelos produtores.

JRA: Como poderia ser solucionado este problema?

QUERCUS: O problema poderia ser facilmente solucionado com incentivos governamentais e uma politica florestal sustentável onde se dê prioridade às espécies autóctones nomeadamente Carvalhos.

JRA: Que posição vem assumindo a Quercus em relação a esta questão?

QUERCUS: A Quercus há muito que alerta para os problemas da eucaliptização que é efectuada um pouco por todo o país. Aliás, o tipo de floresta que temos, em regime de monocultura, é um dos principais factores que levam à proliferação dos incêndios. A Quercus tem tentado elucidar os sucessivos governos para a necessidade de implementar uma politica florestal sustentável, na qual a floresta de uso múltiplo deve ocupar espaço recorrendo-se às espécies autóctones da península.
A Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza, foi fundada em 1985 com o nome QUERCUS - GRUPO PARA A RECUPERAÇÃO DA FLORESTA E FAUNA AUTÓCTONES, e desde a sua fundação lutou sempre com os meios e voluntários de que dispunha contra a eucaliptização que assolou o nosso país e que provocou uma diminuição sensível da biodiversidade, considerado por nós o mais grave atentado ambiental desde sempre em Portugal, só eventualmente ultrapassável (informação que não confirmo) pela destruição da floresta autóctone e o plantio do pinheiro bravo durante os séculos das descobertas, em que a madeira de carvalho foi usada para a construção naval.
A Quercus - A.N.C.N. tem feito pareceres a entidades com responsabilidade governamental na gestão da floresta em Portugal e comunicados públicos sobre estes assuntos de forma sistemática e regular, que poderão eventualmente ser consultados na Internet no endereço http://www.quercus.pt.
Só em 2004, desde 1 de Janeiro até à presente data, a Quercus - A.N.C.N. emitiu 8 comunicados em que a palavra "Floresta" é mencionada, apesar de relacionados com assuntos diversificados como impostos, alterações da REN e RAN, alterações climáticas e casos mais concretos como o abate de árvores no Parque Florestal de Monsanto.

JOVENS REPÓRTERES PARA O AMBIENTE
Ana Cristina Ferreira, Ângela Cristina Pereira, Carla Simões, Daniel Ferreira, Edmundo Soares, Eduardo Ventura, Elisabete Lopes, Fábio Domingues, Filipe Silva, Lúcia Gonçalves, Márcia Rodrigues, Maria de Fátima Almeida, Mário Silva, Marisa Bastos, Vera Marta, Sara Tavares, Soraia Macedo, Tiago Covelo, Márcio Domingues (alunos do 10ºC).

PROFESSORES COORDENADORES
Luís Silva e Ana Carla Dias

OS ENTREVISTADOS
Fernando Leão, biólogo
Paulo Almeida, Eng. Electrotécnico
Membros da Direcção do Núcleo Regional de Aveiro da Quercus - A.N.C.N..

quinta-feira, março 25, 2004

Inquéritos Realizados pelos Jovens Repórteres para o ambiente, durante os meses de Fevereiro e Março de 2004, junto da comunidade escolar.

Quadro 1
Total de membros da comunidade escolar 823 - 100%
Total de inquiridos 323 - 39,7%

Quadro 2
Actividade dos inquiridos Total Percentagem
Aluno 290 88,7%
Professor 16 4,9%
Inválidos 16 4,9%
Pessoal administrativo 9 2,8%
Auxiliares da acção educativa 7 2,1%
Cozinheira 4 1,2%
Guarda Nocturno 1 0,3%

Quadro 3
Idade
10 a 15 anos 180 55,0%
16 a 18 anos 105 32,1%
31 a 99 anos 30 9,2%
26 a 30 anos 7 2,1%
19 a 25 anos 4 1,2%
Inválidos 1 0,3%

Quadro 4
Sexo
Feminino 197 60,2%
Masculino 129 39,4%


Quadro 5
Considera a nossa escola:
1. Limpa 264 80,7%
3. Suja 47 14,4%
4. Muito suja 9 2,8%
2. Muito Limpa 6 1,8%
Inválidos 1 0,3%

Quadro 6
A quem deve ser atribuída a responsabilidade pela preservação da limpeza da escola?

6. Todos 250 76,5%
4. Funcionários 26 8,0%
2. Só quem suja 20 6,1%
1. Alunos 18 5,5%
3. Professores 6 1,8%
5. Conselho executivo 6 1,8%
7. Ninguém 1 0,3%
Inválidos 0 0,0%

Quadro 7
O que pensa sobre a separação dos lixos?

4. Concordo plenamente 196 59,9%
1. Concordo 111 33,9%
3. Acho um disparate! 9 2,8%
2. Não concordo 7 2,1%
5. Nunca ouvi falar 4 1,2%
Inválidos 0 0,0%


Quadro 8
Costuma fazer a separação de lixos, em casa?

2. Às vezes 242 74,0%
3. Nunca 44 13,5%
1. Sempre 41 12,5%

Quadro 9
Acha útil o desenvolvimento de um programa de separação de lixos, na escola?

1. Sim 314 96,0%
2. Não 12 3,7%
Inválidos 1 0,3%

terça-feira, março 16, 2004

ENTREVISTA

José Teixeira Valente – Presidente da SEMA – Associação Empresarial de Estarreja, Sever do Vouga e Albergaria-a-Velha


JRA (Jovens repórteres para o ambiente): Que desafios se colocam a um desenvolvimento sustentado do concelho de Sever do Vouga?

1. Sever do Vouga, como qualquer outra localidade, tem de desenvolver-se, no sector industrial e outros, respeitando naturalmente as regras do ambiente. No mundo de hoje onde as questões ambientais assumem um papel de relevo na vida das populações, o sector industrial tem que estar permanentemente atento a estas regras.

JRA: Que benefícios colhem as indústrias deste concelho do esforço de se desenvolverem respeitando o ambiente?

2. Ao aceitar o desafio para o seu desenvolvimento as empresas industriais de Sever do Vouga só podem colher benefícios das medidas que tomarem tendo em conta, não só as questões que se reflectem na área do fabrico, mas também aquelas que digam respeito ao bem-estar dos seus trabalhadores e que não causem efeitos nocivos no meio envolvente. O respeito pelas leis do ambiente é uma obrigação e as empresas devem considerar os custos com as medidas de minimização ambiental como um investimento.

JRA: Quais os projectos que se avizinham, no concelho de Sever do Vouga, no sector industrial?

3. Não tenho nenhuma ideia de quais os futuros projectos no sector industrial para Sever do Vouga, mas sejam quais forem, eles têm que ter em conta o problema ambiental.

JRA: Poderemos considerar rentável a opção pelo respeito pelo meio ambiente?

4. Quando o sector industrial ou outro aposta decididamente na defesa do meio ambiente, esse desafio é rentável, não a curto prazo, mas sim a médio e longo prazo. A falta de cumprimento das leis nacionais sobre o ambiente e mesmo das directivas comunitárias é passível de multas cujo valor pecuniário às vezes não é excessivo, mas o impacto negativo que qualquer indústria cause na opinião pública é, provavelmente, o seu maior prejuízo.

JRA: Diante da exigência que as normas comunitárias e a recente legislação ambiental comportam, como podem sobreviver as pequenas e médias empresas deste concelho?

5. As pequenas e médias empresas de Sever do Vouga têm que ser capazes de sobreviver e se adaptar às novas exigências de respeito pelas normas e boas práticas ambientais. Não é só o sector industrial que deve ser observado, mas também o trabalho desenvolvido pelas Autarquias e por outros agentes económicos, onde a população em geral assume um papel fundamental deve ter em atenção que no mundo de hoje a sobrevivência e o bem-estar das pessoas reside essencialmente na defesa do meio em que vivem, em que trabalham e em que se divertem. Estes desafios são cada vez mais exigentes e devem merecer de todos um cuidado cada vez mais atento.

Entrevista ao Presidente da direcção da «Associação dos Amigos do Rio Vouga», Paulo Figueiredo

JRA (Jovens Repórteres para o ambiente): Que objectivos se propõe alcançar a «Associação dos Amigos do Rio Vouga»?

AARV («Associação dos Amigos do Rio Vouga»): A Associação foi criada em 1992, tendo por área de influência a Bacia do Rio Vouga.
Os sócios são pessoas individuais, empresas e 11 das 12 Câmaras Municipais cujos concelhos são banhados pelo Rio Vouga.
Tem por objectivo estudar e preservar as características que individualizam o Rio Vouga e o distinguem de todos os outros cursos fluviais. Colaborar com as autoridades na elaboração de estudos de impacto ambiental, aproveitamento turístico, inventariação de fontes de poluição. Promover a defesa ecológica do ambiente fluvial, sensibilizar as populações e outros utilizadores das águas e margens do Rio para que contribuam para a sua defesa e preservação.


JRA: Que qualidade apresentam as águas do Rio Vouga?

AARV: A qualidade da água no Rio Vouga está directamente relacionada com o “desenvolvimento” e a densidade populacional, ou seja no Alto Vouga a água é de boa qualidade diminuindo sempre até à foz.


JRA: Quais os principais problemas ambientais que afectam este rio?

AARV: A poluição do rio começa a notar-se no médio Vouga. O maior problema de momento, são os esgotos domésticos de S. Pedro do Sul e Termas que ainda não estão ligados à ETAR. Por falta de sensibilidade ambiental e qualidade de vida, há outros focos de poluição que são pequenas explorações de suinicultura e esgotos domésticos ligados directamente aos ribeiros afluentes do Vouga.

JRA: Que contributo tem dado a vossa associação no sentido de diminuir os problemas ambientais diagnosticados?

AARV: A Associação entende que o binómio “bom ambiente, boa qualidade de vida” só se atinge com o empenho das escolas e com as gerações mais novas.
Assim sendo, realizámos actividades com as escolas/alunos da Bacia do Vouga tais como: concurso sobre o Vouga, visitas guiadas ao “Vouga da Nascente à Foz”, Campos de Férias, apoio a projectos relativos a ambiente/Vouga, realização do Seminário “A Bacia do Vouga e os seus recursos” Que desafios?, publicação em livro das comunicações apresentadas no Seminário. São projectos para este ano: Solicitar às Escolas Básicas da Bacia do Vouga informação da existência de projectos ambientais, nomeadamente sobre o Rio Vouga (subsidiar se possível esses projectos).
Realizar actividades dirigidas aos jovens: Acampamento, Palestras sobre ambiente, Visitas a aproveitamento turísticos ao longo do Rio.
Para além destas actividades dirigidas aos mais novos propomo-nos inventariar os focos de poluição existente, eliminar focos de poluição, promover as potencialidades do Rio Vouga, divulgar a Associação.

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